Educação, pesquisa e desenvolvimento: andando na contramão
11 de setembro de 2019, às 13h06 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
artigo publicado na Gazeta do Povo em 10/09/2019
Quem é Sabin, o que ele fez e o que isto tem a ver com educação, pesquisa e desenvolvimento?
Recentemente estive na Universidade em que me formei, a Universidade Estadual de Londrina – UEL. Ao visitar as instalações da UEL, em frente ao Anfiteatro Cyro Grossi (ou Pinicão, é assim mesmo que é conhecido), me deparei com uma placa comemorativa de uma importante visita realizada na Universidade em 1982, pelo Dr. Albert Sabin, dois anos do início de minha graduação. Ando alguns passos e pergunto a dois jovens alunos: vocês sabem que é Sabin? Infelizmente a resposta foi não.
Relembrando a história, Sabin e sua equipe foram os responsáveis pelo desenvolvimento da vacina contra a Poliomielite, doença popularmente conhecida como Paralisia Infantil. Médico radicado nos EUA, nasceu em uma região da Rússia, hoje território da Polônia. Anos e anos de intenso trabalho de pesquisa e importantes investimentos de algumas instituições de ensino americanas e mundiais onde esse médico trabalhou, com atividades recheadas de desafios, muita persistência e até mesmo teimosia, levaram Sabin a conquista de um dos mais importantes avanços do século XX no mundo, e em particular no Brasil: a completa erradicação da doença, por meio de maciças campanhas da vacina criada por este importante cientista.
Para se ter uma ideia do avanço, desde 1989 a doença foi erradicada no Brasil. Faz trinta anos que não registramos nenhum caso. Nos trinta anos anteriores, cerca de 30.000 casos haviam sido registrados. Me lembro muito das campanhas de vacinação em massa, participei de algumas na minha juventude, indo de casa em casa em alguns bairros de Londrina. Um dos grandes desafios de Sabin ocorreu na década de 50 do século passado: havia uma outra vacina testada e utilizada nos EUA, com base em cepas de vírus mortos, que reduzia os efeitos da doença, mas ele, na época, estudava e desenvolvia uma vacina com vírus atenuados, mas que não só melhoravam os efeitos, mas criava resistência e eliminava a ocorrência da doença. Havia desconfiança em utilizar vírus atenuados, pois estavam vivos, quando introduzidos nas pessoas. A história é longa e complexa, mas demonstra a luta e persistência de um cientista que teve recursos, conseguiu dedicar décadas de pesquisa para que se atingisse um importante desenvolvimento, a hoje conhecida vacina em gotas, a do Zé Gotinha no Brasil. A existência de recursos, a convivência em uma instituição de ensino e pesquisa e a continuidade do trabalho foram fundamentais para este importante avanço.
Considerada esta história, ao ouvir as últimas notícias sobre o corte no financiamento de bolsas de estudo e pesquisa no nosso país me preocupo intensamente. Estamos falando tanto de futuro e cortamos o que poderia nos levar a um desenvolvimento mais promissor e sustentável. Como Engenheiro Civil e professor, me permito fazer um paralelo da situação que estamos vivendo, com a construção de uma obra.
Em qualquer edificação, a fundação é considerada a principal etapa responsável por sustentar o projeto sonhado. Nela são feitos grandes investimentos para que as etapas seguintes possam acontecer com segurança. No futuro sonhado para o nosso país, a Educação e a Pesquisa fazem a função da fundação na construção! Sem ela, ou com ela instável e “fraca”, não conseguiremos “erguer” projetos em nosso país. Não conseguiremos erguer nosso país.
Entendo a conjuntura da nossa economia, entendo que precisamos discutir e até mesmo remanejar verbas em momentos de dificuldades orçamentárias, mas também me preocupa a possível redução de nossas estruturas de pesquisas nas mais diversas áreas, nas nossas áreas tecnológicas que são fundamentais para o desenvolvimento, e em especial a possibilidade de descontinuidade de muitos jovens que não conseguirão criar as importantes fundações para uma sociedade mais moderna, mais sustentável, mais igualitária e mais justa. É fundamental que possamos manter, dar continuidade a pesquisas de vários jovens e pesquisadores que já realizam seus trabalhos, que ao longo do tempo, com persistência e até teimosia, a partir da dedicação de décadas e décadas, como ocorreu na história de Sabin no desenvolvimento da vacina contra a Poliomielite, para que também possamos obter importantes avanços em nossa sociedade. Precisamos discutir a manutenção de um conjunto de trabalhos fundamentais de pesquisa, em áreas estratégicas para o país, tais como energias renováveis ou segurança alimentar. Estamos precisando de boas fundações e lembrar mais de históricas de pesquisadores como Sabin, que ele seja uma referência, mais que um registro de uma placa em uma parede.
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