A Agronomia frente ao novo Coronavírus
1 de abril de 2020, às 12h53 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
Estamos vivendo um momento ímpar na história da nossa geração: “estamos diante de uma ameaça invisível e iminente”. As lideranças mundiais equiparam essa pandemia, provocada pela proliferação descontrolada de um vírus, a uma grande guerra. O fato dele (o vírus) atacar em todas as frentes, usando como estratégia de difusão os nossos próprios soldados (seres humanos), faz com que a nossa principal arma de defesa seja o entrincheiramento em casa, o chamado “isolamento social”. Essa tática, na sua essência, não visa o combate ao inimigo. Esse “não contato” entre as pessoas visa evitar o avanço exponencial na curva de crescimento dos contaminados para não colapsar os sistemas de Saúde e assim reduzir a projeção de baixas.
Enquanto não for desenvolvido um antídoto de resistência ao inimigo, a humanidade deve se subjugar e adotar as estratégias de defesa propostas pelas autoridades sanitárias. O período de isolamento social, ainda com duração não conhecida, com certeza fará com que saiamos dessa guerra com redução na projeção inicial do número de mortos, mas em contrapartida, com danos severos à economia. A recuperação certamente exigirá um esforço coletivo, se equiparando a situações de pós-guerra em que a humanidade já tem precedentes em sua história.
Neste momento ainda, digamos, no olho do furacão, a ordem é sobreviver, o que é o mais importante. Por outro lado, já devemos pensar nos desafios pós-epicentro dessa pandemia.
Primeiramente teremos que buscar as causas e as constatações que nos levaram a chegar nessa catastrófica situação e a partir delas colimar a nossa ação.
Ficou claro que o mundo é globalizado, essa interconexão não se dá apenas pela rede mundial de computadores. O que acontece em uma parte do mundo pode rapidamente se difundir no planeta inteiro, daí a necessidade do fortalecimento de organismos de vigilância e controle de caráter global;
Chamou-nos a atenção a homilia proferida pelo Papa Francisco, no dia 27 de março, para uma Praça de São Pedro vazia, fato inédito na história, no trecho que ele falou: “A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. ” No trecho que se seguiu ele considerou: “ Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-te: Acorda, Senhor!”
Analisando esse raciocínio, feito pela autoridade máxima de uma instituição de abrangência mundial, na área da Agronomia nos cabe aproveitar este momento onde estão sendo colocados em debate várias condutas e práticas da humanidade, para refletirmos e propormos redirecionamentos. Nessa ótica, ao que parece já tínhamos alguns diagnósticos nos alertando para estrangulamentos, especialmente na produção a qualquer custo e o uso desmedido de insumos. Nesse caso, o esforço deverá ser no fortalecimento na pesquisa e assistência agronômica, embasada em conhecimentos científicos e compatibilizados com a realidade de cada propriedade, levando em consideração os aspectos regionais, sociais e culturais do produtor. O foco precisa ser na produção de alimentos seguros e na garantia de renda ao produtor, de forma lhe garantir uma boa qualidade de vida, como valorização e retribuição ao nobre trabalho de produzir alimentos e ao mesmo tempo da outorga que lhe é feita de ser o guardião da conservação e da sanidade dos recursos naturais.
Os avanços da tecnologia, planejados a partir de políticas públicas, deverão obedecer a critérios rigorosos de eficiência, segurança e sustentabilidade;
Os cuidados com os recursos naturais, com o meio ambiente em todos os seus aspectos, especialmente as pesquisas com manipulação genética passam a ter interesse global, não haverá como dissociar a produção dos aspectos de impacto ambiental;
A política na produção de alimentos deve ser priorizada buscando atender primeiramente a população local como forma de garantir uma segurança de fornecimento de alimentos em situações de catástrofes.
Não devemos renegar os conhecimentos nos proporcionados pela Ciência, no entanto, devemos usá-los de maneira racional sob risco de voltarmos a enfrentar semelhantes arapucas como esta da pandemia do Coronavírus.
Eng. Agr. Adalberto Telesca Barbosa
Conselheiro do CREA-PR e membro da Câmara Especializada de Agronomia
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