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Acesso em 27/12/2024 às 00h40.

Engenharia Ambiental, crise hídrica e energética: A responsabilidade não é só do consumidor

Por Ricardo Vidinich

4 de fevereiro de 2022, às 15h11 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos

Nesta semana, comemoramos o dia do engenheiro ambiental, que é responsável pelas atividades referentes à administração, gestão e ordenamentos ambientais e ao monitoramento e mitigação de impactos ambientais. Portanto, a questão de soluções sustentáveis para o planeta é uma de suas principais atribuições. A energia renovável é um dos pontos analisados pelo engenheiro ambiental. 

Temos nesse momento uma situação de crise hídrica que levou o Governo Federal a anunciar o aumento de tarifa de energia elétrica no fim de agosto, quando a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG) criou a “Bandeira Tarifária Escassez Hídrica”, com o valor de R$ 142/MWh (reais por megawatt hora), e significou um aumento de 49% sobre a Bandeira Vermelha 2 que havia sido aprovada anteriormente pela Aneel. O problema é que o a conta foi jogada para o consumidor pagar. Mas a responsabilidade não é só do consumidor.

O momento é bem crítico. Nós temos, a princípio, energia contratada no Brasil a mais do que é necessário. Ao longo dos anos, nós tivemos queda na demanda de energia. E por que ocorreu essa queda? Basicamente por recessão econômica. O país gastou menos. Para simplificar bem, há 10 anos, as estimativas eram de que hoje nós teríamos uma carga de energia de 90 gigawatts-médios (GWm). E, em setembro de 2021, nós estávamos com carga de 68 GWm. Pelas projeções atuais, do PDE 2031 – Plano de Desenvolvimento Energético do MME 2031, em consulta pública, nós só vamos alcançar esses 90 GWm daqui 8 anos.

Em 2020, nós tivemos uma redução chegando a 65,9 GWm em função da crise de saúde provocada pela Covid-19 e agora já retomamos. Esse é um ponto importante quando se fala em planejamento.

O segundo ponto é que existe uma crise hídrica que começou anos atrás. São vários anos de crise nos quais os reservatórios não ficam cheios. Só que no ano passado piorou mais ainda porque além dos reservatórios já estarem com menos água choveu muito menos do que normalmente chove. 

O país ao longo dos anos se preparou com energia térmica exatamente para esses momentos mais difíceis. Basicamente, a reflexão que eu coloco é: como é possível que, em uma época de crise, desliguem as usinas nucleares, como a usina de Angra foi desligada para manutenção. E a pergunta é essa: será que era necessário de fato parar agora, em uma época de crise? Não poderia ter deixado para fazer mais tarde? 

A segunda é: existe um contrato que foi feito ainda em 2003 de térmicas a gás, o chamado PPT (Programa Prioritário de Termelétricas), que contratou energia, construiu térmicas e tem 2 térmicas que são no Ceará – a usina TermoCeará e a Termoelétrica de Fortaleza. Duas grandes térmicas que usam gás regaseificado. E esse gás hoje não existe mais. E são térmicas que estão sendo pagas pelos consumidores do Ceará e que são mais baratas do que outras que estão sendo ligadas emergencialmente que afetam essa tarifa muito alta que o governo anunciou, de R$ 142/MWh. O consumidor paga, mas não tem disponível. Então, a conta de não ter essa energia não pode ser repassada ao consumidor.

O que houve é o acionamento de outras térmicas mais caras – por exemplo, a William Arjona, no Mato Grosso do Sul, uma usina que custa mais de R$ 2.444/MWh com ciclo aberto enquanto a Térmica Fortaleza custa R$437/MWh, e gera com ciclo combinado, reaproveitando o calor dos gases de escapamento.

Essa é crítica. Não pode, em uma época de crise, o consumidor pagar a conta sozinho sem que essas térmicas com energia mais barata tenham sido ligadas. Se falta gás, a provedora do gás não fornecido é que tem que pagar a conta.

Essa economia ou esse incentivo a economizar e achar fontes alternativas deveria ter começado ano 2020. A cobrança dessa bandeira, o acionamento de térmica deveria ter ocorrido em 2020. Essas térmicas que não estão sendo usadas poderiam ter sido acionadas no ano passado inteiro – a Termo Fortaleza e a TermoCeará – e, se elas tivessem sido usadas nós não teríamos que usar térmicas de mais de R$ 2 mil/MWh que estão sendo acionadas agora.

Agora em 2022, mesmo com as chuvas recentes e o preenchimento de reservatórios, continuamos usando as térmicas caras. Já em fevereiro de 2021 tivemos o maior volume armazenado de energia em reservatórios dos últimos 7 anos, com 106 TWh. Na mesma data em 2015 eram apenas 43 TWh. Vale destacar que, no meio dessa crise, não foi tomada qualquer iniciativa para estruturar melhor um planejamento para que essa situação não volte a ocorrer futuramente. Isso tem que ficar claro para as pessoas. Estamos fazendo um esforço – o país inteiro está fazendo esse esforço, mas nós queremos ver esforço do outro lado também.

Ricardo Vidinich é Conselheiro do Crea-PR, foi representante do Crea-PR no Conselho de Consumidores da Companhia Paranaense de Energia (Copel), no qual era o presidente até 31 de dezembro de 2021.


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