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Acesso em 23/11/2024 às 23h16.

Deslizamento na BR-376 e a atuação técnica: qual a visão profissional sobre?

Por Abdel Hach, geólogo e integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)

6 de dezembro de 2022, às 12h12 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos

Conselheiro Abdelmajid Hach Hach

Na última semana, famílias paranaenses e de todo o país, acompanham consternadas e solidarizadas às constantes atualizações sobre a mais recente tragédia ocorrida na estrada do litoral do Estado. O deslizamento registrado na BR-376, em Guaratuba, é um desastre – que se soma a outros já ocorridos em rodovias de todo o Estado – e traz inquietude, reflexão, indagações e provocações às autoridades e à sociedade.

É, com certeza, imaturo buscar, nesse momento, determinar conclusões categóricas sobre o diagnóstico da tragédia ocorrida. Mas, sem nenhuma pretensão ansiosa ou precoce, é possível reconhecer a importância de uma atuação profissional composta por profissionais habilitados para o enfrentamento às situações adversas, como a citada aqui.

Os números contabilizados nos dão a magnitude do desastre:  o deslizamento no litoral deixou duas pessoas mortas, ao atingir pelo menos 15 veículos e seis caminhões que cruzaram a rodovia no momento. Outras 12 pessoas se salvaram do acidente, segundo o Corpo de Bombeiros, que concluiu as buscas por vítimas após, pelo menos, quatro dias de trabalho intenso no local. Até o momento, a pista da BR-376, na divisa entre os estados do Paraná e Santa Catarina, ainda não foi liberada. Após mais de 50 horas do início do processo de limpeza e desobstrução da via, as equipes retiraram 7 mil metros cúbicos de terra na BR-376.

Esse tipo de acontecimento me desperta, como cidadão, geólogo e integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), a reflexão frente a importância da atuação de profissionais habilitados com experiência e expertise para diversas situações do nosso Estado. Mais uma vez, ressalta-se que o objetivo de tal reflexão não é identificar causas ou culpados pelo recente episódio, mas dar luz ao compromisso social de segurança, responsabilidade e expertise técnica presente na atuação de profissionais habilitados dentro das profissões relacionadas às Engenharias, Agronomias e Geociências.

Sabe-se que, neste episódio, por exemplo, a atuação de geólogos e engenheiros é tão fundamental quanto estratégica. Eles são os profissionais detentores do conhecimento especializado para compreender as singularidades desse fenômeno natural e identificar, através da expertise profissional, os caminhos e medidas cabíveis para assegurar um tráfego sem riscos aos motoristas que percorrem as rodovias.

Até o momento do fechamento do presente artigo, a Arteris Litoral Sul, concessionária responsável por administrar o trecho, não informou ou respondeu nosso questionamento se havia, em sua equipe técnica, a presença de um geólogo, por exemplo. Nestas situações, é primordial poder contar com um profissional que possa monitorar o fenômeno da dinâmica dos riscos geológicos, com formação em geologia e aperfeiçoamento em geotecnia, pois cabe a esse profissional assessorar no monitoramento e na definição dos limites do risco no que tange a setorização de risco geológico; avaliação técnica pós desastre; elaboração de cartas de perigo; elaboração de mapas de riscos geológicos; elaboração de cartas geotécnicas; entre outros procedimentos. É necessário ouvir um profissional da área de geologia/geotecnia para avaliar o risco e validar a liberação da rodovia pós-desastre, com ART (anotação de responsabilidade técnica) na qual se atesta esta responsabilidade.

Entende-se que o fenômeno que aconteceu em 28 de novembro, foi causado por fatores naturais, condicionados pelas fortes chuvas e pelas características relativas ao solo e ao relevo, e por fatores antrópicos, entre os quais estão o desmatamento de encostas. E é justamente neste sentido em que se torna cada vez mais importante o envolvimento de profissionais qualificados com atribuição e formação acadêmica, somadas a experiência para monitorar o desenvolvimento do novo equilíbrio que a natureza pretende alcançar; qual seria o limite da alteração do equilíbrio alcançado pela ação do homem e quais serão as etapas de contingência/plano de emergência.

Por isso, o episódio desastroso ocorrido no Paraná nos clama uma manifestação responsável e necessária sobre a importância de equipes com profissionais habilitados e qualificados tecnicamente, em todo e qualquer ramo, sobretudo naqueles que estão presente em setores bases da sociedade e pilares do desenvolvimento, como a infraestrutura.

Como parte de um Conselho profissional que zela e luta por interesses sociais, atuando na construção de um futuro pleno, nos apresentamos sempre atentos e vigilantes às situações sociais, principalmente as de natureza das Engenharias, Agronomia e Geociências, a partir de uma leitura crítica e fiscalizatória.  Toda crise ou desastre permite um importante momento de discussão e reflexão. Como autarquia e como profissional da área, compreendo que faz-se necessário a construção de um novo olhar, principalmente sobre as medidas públicas de apuração do acidente, inclusive de afirmações divulgadas sobre risco zero, que podem gerar insegurança e risco, atacando assim, a credibilidade da Engenharia, especialmente da Geotecnia. Agora, é preciso entender adequadamente o momento que vivemos para enfrentar os riscos e as consequências da atual situação, ajustando decisões políticas, públicas e de conduta profissional, se necessário, para que a seguridade dos paranaenses se mantenha constante.


Comentários

  1. Marcos V Grein says:

    Enquanto continuarmos construindo estradas encaixadas por cortes nas encostas em regiões serranas tropicais, o risco de escorregamentos sempre existirão.

  2. Miguel zaganski Carmo da luz says:

    Bom,na minha opinião faltou a atuação do CREA,não precisava levar chacoalao do prefeito pra agir
    CREA :fazer a parceria com as concessionárias e mapear os pontos de risco e obrigar fazer as obras,
    Depois da catástrofes não adianta agir

    • Comunicação Crea-PR says:

      Olá, Miguel, entendemos sua indignação quanto ao desastre e a falta de ação dos órgãos competentes. Mas neste caso, ao Crea compete verificar se há profissionais habilitados e regularizados na realização da obra/serviço, e ainda, se há alguma situação de imperícia, imprudência ou negligência. Nesse sentido, a ação fiscalizatória cabível ao Crea já foi realizada e as verificações estão sendo feitas.

    • Comunicação Crea-PR says:

      Olá, Miguel, entendemos sua indignação quanto ao desastre e a falta de ação dos órgãos competentes. Mas neste caso, ao Crea compete verificar se há profissionais habilitados e regularizados na realização da obra/serviço, e ainda, se há alguma situação de imperícia, imprudência ou negligência. Nesse sentido, a ação fiscalizatória cabível ao Crea já foi realizada e as verificações estão sendo feitas.

  3. Paulo Barreto says:

    Tá, mas jogou a responsabilidade em cima dos órgãos públicos e da empresa .
    O Crea órgão fiscalizador tem alguma norma ? Propõe alguma norma . ? Este é o papel do Crea .

    • Comunicação Crea-PR says:

      Paulo, não ficou clara a que tipo de norma está se referindo, mas caso se refira às normas de atuação do Crea, as questões relacionas a imperícia, imprudência e negligência no exercício da profissão são analisadas e julgadas seguindo a Resolução 1.090/2017. O papel do Conselho de Fiscalização, neste caso, é averiguar eventuais falhas dos responsáveis e tomar as ações aplicáveis caso essas falhas sejam comprovadas. Essa verificação acontece por meio de um processo de fiscalização, que neste caso também já está em andamento.

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