6º Seminário Internacional de Acessibilidade inicia com exemplos de projetos em Minas Gerais e Portugal e experiências de superação
10 de maio de 2023, às 17h57 - Tempo de leitura aproximado: 11 minutos
Nesta quarta dia 10 e amanhã dia 11 de maio, em Curitiba, acontece o 6º Seminário Internacional de Acessibilidade do Crea-PR, com o objetivo de ampliar o debate sobre acessibilidade e reforçar a importância de ações transformadoras em benefício da sociedade.
O presidente do Crea-PR, Eng. Civ. Ricardo Rocha de Oliveira, agradeceu os “parceiros e representantes de várias cidades aqui presentes que trabalham com essa temática. Este evento aborda um tema que engloba diversas profissões representadas pelo Sistema. O olhar da acessibilidade se ampliou para um olhar de igualdade para todas as pessoas e para que elas possam participar da vida de forma integral. Estive no Ministério Público recentemente e fui recebido por um expressivo número de profissionais agradecendo o trabalho que o Crea vem fazendo em prol das profissões”.
O Eng. Civ. Lucio Fernando Borges, presidente do Crea-MG, diz que “o Crea-PR é um exemplo para o Brasil. Somos parceiros e nossa parceria tem dado êxito para ambos os Creas e para o país. Acessibilidade é um tema de suma importância para todos. Em Minas também somos parceiros do Ministério Púbico. Nossas profissões devem contribuir para a sociedade, esse é nosso papel”.
O coordenador da Comissão de Acessibilidade do Crea-PR, conselheiro Eng. Civ. Raiger Moreira Alves, parabenizou o trabalho de toda a Comissão, agradeceu os representantes e palestrantes presentes, inclusive de outros países, “que vieram agregar ao nosso evento”.
Representando o diretor geral da Caixa de Assistência Mútua-PR, Eng. Civ. Julio Russi, o diretor financeiro da Mútua-PR, Eng. Mec. Harlon Luna Ferreira, parabenizou a gestão “pela reinauguração da Inspetoria de Bandeirantes, com toda a Acessibilidade necessária. Aos presentes destaco o programa de Inclusão da Mútua – PIM que tem como objetivo implementar uma política de inclusão, por intermédio da disponibilização de benefícios reembolsáveis e prestações assistenciais, aos profissionais da área tecnológica, que sejam associados ou dependentes de associados com deficiência”.
Representando o presidente da Cooperativa Credcrea, Eng. Civ. Gelásio Gomes, a gerente de Relacionamento e Negócios, Elisania Borges de Freitas, falou que “hoje a CredCrea tem 21 postos de atendimento e atendemos de forma digital todos os cooperados. A instituição financeira tem um papel de suma importância com seus colaboradores e clientes, postos de atendimento estruturados e colaboradores bem capacitados para receber todas as pessoas. Agradecemos a oportunidade de participar”.
A professora Eng. Civ. Wanda Camargo, assessora da Presidência da UniBrasil, afirma que “para nós tem sido uma honra sempre participar dos eventos do Crea, são temas de nosso interesse. Um dos temas de hoje, cidades que caminham, fala do acesso das populações mais sofridas e de todas a todos os espaços”. Ela apresentou a estrutura da UniBrasil.
Representando o presidente do Confea Eng. Civ. Joel Krüger, a conselheira federal Eng. Agr. Marcia Helena Laino diz ter ficado muito feliz quando soube do objetivo do evento de estender o olhar para a área urbana e rural. Os engenheiros agrônomos têm que estar inseridos neste tema. As cidades são deficientes em suas métricas, o cidadão não”.
Representando o procurador geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná, a Doutora Melissa Cachoni Rodrigues diz que na parceria Crea-PR e MP, “cada vez que é levantada uma suspeita de irregularidade, ela pode ser averiguada junto com a equipe do Crea, que emitirá um relatório que será usado para análise do Ministério e tomada de providências cabíveis. Essa pareceria acontece graças ao trabalho dos valorosos profissionais do Crea. Acredito que muitos aqui tenham um sonho e o sonho quando se realiza transcende o sonhador, então, acredito que aqui estamos trabalhando em prol de um objetivo muito maior. Cada um de nós, desempenhando seu papel, pode dizer sim a esse sonho possível de Acessibilidade”.
A coordenadora da Comissão Organizadora do Seminário Internacional de Acessibilidade, conselheira Eng. Comp. e Seg. Trab. Elizandra Gonçalves Taques Sartori, disse representar “21 pessoas que fizeram acontecer esse evento. Agradecemos as importantes presenças e os palestrantes. Com esse trabalho aprendemos que se não tem acessibilidade não é para todo mundo”.
Cidades que caminham
A palestra magna com o tema Cidades que Caminham: acessibilidade no direito à cidade e à qualidade de vida foi ministrada pela Eng. Civ. Paula Teles, de Alvarenga, Arouca, Portugal. Ela é especialista de Mobilidade e desenho urbano e Mestre em Planejamento e Projeto do Ambiente Urbano. Fundadora e CEO da MPT, empresa pioneira em Portugal em mobilidade urbana inclusiva. Foi presidente e Fundadora do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade; vereadora em Penafiel, perto do Porto; coordenadora da Rede Nacional de Cidades e Vilas com Mobilidade para Todos; presidente da Rede Portuguesa Cidades de Excelência e da Comissão Técnica de Acessibilidade e Design Universal do Governo Português; membro da Comissão de Peritos do Fórum “Pensar as Cidades Século XXI”; promotora do Pacto de Autarcas para o Clima e Energia da União Europeia. Atua como professora universitária; é presidente da Rede Cidades e vilas que Caminham; membro do Conselho Não Executivo de Especialistas da Visão Zero 2030 do Governo de Portugal; coordenadora de Mobilidade Urbana Sustentável e desenho urbano; membro da Assembleia de Representantes da Ordem dos Engenheiros de Portugal, entre outras atividades.
A engenheira destacou a importância da visão holística das cidades. “Não temos liberdade se não tivermos acessibilidade”, diz. A acessibilidade tem a ver com infraestrutura, mas isso não é só a parte física, ela explica que o projeto Cidades que caminham refere-se a cidades que permitem caminhar, permitem o direito de ir e vir com liberdade e sem barreiras.
Ela mostrou a cidade segregada pelas grandes infraestruturas e a transformação que a acessibilidade traz para elas com “pontes”, formas e estruturas novas que ligam o que está separado. Na realidade, os “desafios da acessibilidade na cidade são desafios do direito das pessoas, de todos, à acessibilidade e mobilidade”, declara.
Teles mostrou então exemplos reais de como o projeto Cidades que caminham tem atuado em Portugal, o diagnóstico das barreiras urbanísticas e arquitetônicas, elaboração de planos de acessibilidade após a localização de pontos de problemas. Com essa análise é possível tomar as decisões mais acertadas para a implantação das melhorias, de forma mais assertiva, sabendo onde devem ser feitas e o custo.
A palestrante lembrou ainda que teve bastante contato com o paranaense Eng. Civ. E Arq. Jaime Lerner, que “nos ensinou a olhar a cidade com o desenvolvimento tático, com seus estudos e livros”, e mostrou inclusive uma foto com ele em sua última visita ao Brasil, há cinco anos.
Finalizando, ela mostrou boas práticas de acessibilidade em cidades portuguesas. Uma grande novidade foi a estruturação de itinerários turísticos acessíveis, um projeto chamado Turismo for all, que possibilita conhecer e visitar cidades portuguesas que têm acessibilidade. Em seguida a plateia fez perguntas sobre responsabilidade das calçadas, mobilidade em cidades montanhosas e como fazem em Portugal para ouvir as necessidades das pessoas com deficiência e contemplá-las nos projetos.
Gladiadores – Equipe de rugby em cadeira de rodas
A Saúde Esporte Sociedade Esportiva iniciou suas atividades no ano 2007, em Curitiba, coordenando e promovendo ações para crianças e jovens através do esporte com o objetivo de contribuir para o fomento do esporte olímpico e paralímpico. Em 2021, nasce o time de Rugby em Cadeira de Rodas. O projeto conta com uma equipe multidisciplinar – Professores de Educação Física, Fisioterapia, Enfermagem entre outros. O Gladiadores é, segundo o coordenador, um grupo bem ativo e participa de competições a nível estadual e nacional. Uma curiosidade: O rugby é a única modalidade paralímpica onde homens e mulheres competem juntos
Luciano e Gerson, membros do time, estavam presentes e chamaram o público para participar de uma demonstração. na ocasião, dois espectadores puderam vislumbrar como funciona o rugby sobre rodas . Eles também contaram um pouco da experiência como cadeirantes e como atletas, fazendo um paralelo entre a acessibilidade no Brasil e em outros lugares do mundo: “No Brasil, antes de eu ir a algum lugar, seja uma lanchonete ou uma churrascaria famosa, preciso ligar antes para ver se tem acessibilidade.”
“Moro em Curitiba, no Capão Raso, e para ir até a panificadora que fica a apenas duas quadras da minha casa, preciso ir de carro. As guias não são rebaixadas e quando são, por vezes, não são utilizáveis. Percebo que vem evoluindo, desde 2004, mas ainda temos muitas necessidades a serem resolvidas.”
Depois de atender às diversas e pertinentes perguntas do público, os “Gladiadores” receberam uma placa de agradecimento, reconhecimento do Crea-PR.
Ações de Acessibilidade em Uberlândia, MG
Palestrantes Idari Alves da Silva, diretor de acessibilidade e mobilidade reduzida da Prefeitura Municipal de Uberlândia e Marco Antonio Cunha e Silva, arquiteto Coordenador do Núcleo de Acessibilidade.
Idari começou contando um pouco sobre sua história e trajetória. Seus estudos sobre acessibilidade o levaram a explorar diversos campos, como história e direito até ser convidado a atuar na Prefeitura de Uberlândia.
No começo da explanação, fez questão de nivelar o conhecimento da plateia. Falou sobre a evolução dos termos utilizados para se referir a pessoas com deficiência em uma verdadeira aula:
“No passado éramos “deficientes”, depois “pessoa portadora de”, depois “portador de necessidades especiais”, até que, por fim, “pessoa com”. Portador significa carregar e, se eu não posso tirar a deficiência de mim, eu não sou portador. Sobre a palavra necessidade: você tem necessidade de alguma coisa em algum momento e ela, satisfeita, deixa de existir. O que não é nosso caso. No termo correto, em primeiro lugar vem a pessoa, promovendo dignidade. Além disso, é como dizer: “é uma pessoa com cabelo preto, com cabelo castanho, com deficiência.”
Com muito bom humor, falou sobre diversidade: “a diferença é muito bom” e também sobre a importância do assunto para todos: “Não é para o diferente que se deve olhar para a compreensão da diferença, mas para o comum.”
“Acessibilidade é oferecer a todas as pessoas condições de segurança, igualdade e liberdade. Acessibilidade é liberdade!”
Falando sobre a sua atuação na Prefeitura de Uberlândia, contou que a cidade é referência nacional em políticas públicas em atenção às pessoas com deficiência e se tornou a primeira cidade do Brasil com 100% do transporte coletivo acessível, que foi reconhecido como exemplo de Boas Práticas em Transporte pela ONU Habitat em 2012.
Em 2021, ela foi destaque em estudo internacional sobre acessibilidade em publicação do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que dedicou um capítulo da publicação ao trabalho da cidade no Transporte Público e Mobilidade Urbana. Rampas de acesso nas calçadas, vagas de estacionamento público exclusivas para idosos e pessoas com deficiência e a modernização da legislação local, voltada para projetos arquitetônicos inclusivos, são outros exemplos citados pelo BID que colocam o município entre os modelos destacados em todo o continente americano.
Ainda assim, falou sobre as dificuldades de acessibilidade que ainda ocorrem na cidade, o que inclusive foi o que impulsionou a criação do Mapa do Turismo Acessível, uma ferramenta especial interativa com informações sobre acessibilidade em espaços de hospedagem, gastronomia, cultura, entretenimento e esporte, entre outros. O recurso é colaborativo: está aberto a sugestões da população para ser cada vez mais enriquecido com dados importantes sobre a cidade. Desenvolvido em conjunto pelas secretarias de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo (Sedeit) e Planejamento Urbano, com apoio da Secretaria de Governo e Comunicação, o guia foi reconhecido pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) com o certificado “Boas Práticas do Turismo 2019”, na categoria “Informação Turística”.
Marco falou sobre como funciona o acompanhamento de projetos de engenharia e da dinâmica do cuidado para que as obras cumpram os processos necessários para a promoção da acessibilidade: “Sempre vamos até o local para avaliar a situação, não nos preocupamos só com os prédios, na escala da arquitetura, mas em expandir isso para a escala urbana pensando em todos os aspectos da acessibilidade.”
Idari finalizou dizendo que, ainda que os problemas das cidades se pareçam, não existe receita de bolo. A ideia é trazer o que funcionou em Uberlândia, mas cada cidade precisa entender como aplicar a acessibilidade à sua realidade.
Acesse o álbum de fotos do evento aqui.
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