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Disponível em <https://www.crea-pr.org.br/ws/2022/03/agricultura-do-parana-crise-e-oportunidades-para-agir-agora-e-repensar-o-futuro/>.
Acesso em 21/11/2024 às 10h24.

Agricultura do Paraná: crise e oportunidades para agir agora e repensar o futuro

Confira o artigo do presidente do Crea-PR, Eng. Civ. Ricardo Rocha.

4 de março de 2022, às 11h27 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

Nossa agricultura, que sempre puxou o desenvolvimento de nosso Estado, merece agora um olhar cuidadoso, apoio devido, ações imediatas e reflexão para seu futuro. Referência mundial em tecnologia, batendo recordes de produção, exportação, geração de emprego e renda, se destaca como responsável por 33,9% do PIB (Produto Interno Bruto) paranaense. Apesar desse histórico glorioso, o ano de 2022 começou com problemas até pouco tempo não imaginados para o setor. Um dos fatores foi a recente crise hídrica, que impactou diretamente a economia e os resultados da safra de verão em todo o Estado. Estimativas atualizadas pelos técnicos do Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, indicam que o Paraná vai produzir 14,74 milhões de toneladas de grãos na safra de verão 2021/22, em uma área de 6,24 milhões de hectares. O volume é 42% menor do que o esperado nas previsões iniciais, com estimativas de aproximadamente 25,5 milhões de toneladas, sendo a soja, o milho e o feijão as culturas mais prejudicadas.

Neste cenário, devem entrar em ação as políticas públicas distributivas – instituídas nacionalmente para resolver problemas de forma eficiente em áreas extensas – cujos programas contam com recursos financeiros, planejamento para aplicação, fiscalização dos investimentos, avalição periódica e aperfeiçoamento estabelecidos conforme regras e conhecimento técnicos. É sob esta concepção que estão planificados nossos programas nacionais, cuja existência, em sua teoria, deveria garantir uma assistência eficiente em episódios emergenciais.

Quando foi solicitada a contribuir com o desenvolvimento do país, a agricultura do Paraná sempre se colocou como um importante vetor. Agora é a hora de ser apoiada, pois sua longa lista de contribuições a habilita para ter prioridade em momento que necessita de ajuda.

Mas a aplicabilidade deste apoio no momento esbarra em problemas operacionais: há programas de suporte, mas não há mão-de-obra suficiente para executar as políticas públicas estabelecidas. Desse modo, qual o sentido desta política se ela falha justamente quando deve alcançar o cidadão? Se o objetivo é gerar desenvolvimento econômico para o país é preciso fiscalizar e amparar com proximidade e agilidade.

Atualmente, o governo federal coordena o seguro rural privado no qual são seguradas lavouras de produtores classificados como médios e grandes, sendo os pequenos amparados com o seguro governamental do PROAGRO (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária). Neste seguro privado, onde temos hoje 18 seguradoras operando na área rural, os governos estaduais e federais atuam com subvenções que atingem até 40% do valor do prêmio que o produtor paga, uma vez que este é um investimento elevado.

Nesta última safra, foram disponibilizados mais de R$ 1 bilhão em subvenção e, mesmo assim, não foi suficiente para atender a demanda. É preciso que este número seja ampliado significativamente, já que a maioria das áreas seguradas estão vinculadas a financiamento agrícola junto aos agentes financeiros que operam no crédito rural. Também é preciso dar agilidade aos processos, para atender no tempo adequado os nossos produtores rurais.

O governo do Paraná, em algumas safras, também tem subvencionado algumas culturas, mas ainda é preciso a elaboração de um plano estratégico de subvenção de culturas de interesse social, proporcionando mais segurança na atividade. É preciso ressaltar que muitos produtores não tiveram acesso ao seguro e nem ao Proagro, seja por desconhecimento ou falta de crédito, ou até mesmo por falta de um responsável técnico que oriente o agricultor, principalmente o pequeno produtor, que em sua maioria, trabalha sem assistência técnica.

Como o Paraná é formado por mais de 80% de pequenos produtores e, boa parte deles ainda não contam com assistência técnica, esta é a maior preocupação quanto a permanência destes agricultores na área rural. Muitos programas de auxílio têm sido feitos pelo poder público, mas entendemos que ainda é necessário ampliar e integrar a participação do engenheiro agrônomo e outros profissionais habilitados como responsáveis técnicos, o que resulta na busca da sustentabilidade das propriedades rurais através de projetos, assistência técnica e outros meios para a efetiva viabilidade econômica.

Neste sentido, o Crea-PR tem atuado para contribuir com esse processo. Ao firmar o Acordo de Cooperação – ART Social (um incentivo do Conselho ao desenvolvimento da Agricultura Familiar no Paraná) com a OCEPAR (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) e diversas Cooperativas de nosso estado, criando condições de recolhimento de ART Social junto aos pequenos produtores rurais, facilitando que o profissional possa, de fato, prestar a devida assistência técnica.

Apesar de importantes avanços já obtidos, é preciso ir além. A atual conjuntura exige um olhar mais efetivo de nossos governantes, a partir de propostas de flexibilização de suporte que permitam o desenvolvimento da economia. E, nessa luta, as entidades, incluindo o Crea-PR, estão à disposição para o planejamento de um caminho efetivo: o trâmite ágil do seguro agrícola, bem como a prorrogação de financiamentos de investimento e linhas de crédito especiais para o financiamento da atividade que sejam capazes de evitar que os produtores, além de não possuírem receita, também fiquem inadimplentes. Esses são caminhos que devem ser considerados e discutidos.

Estamos em um momento delicado em várias frentes econômicas do país e é mais que necessário enxergarmos esse enfrentamento à crise hídrica e outros fatores impactantes em nossa agricultura, com a complexidade que a situação exige. Não estamos apenas buscando soluções para a agricultura e pecuária nacional. Devemos olhar para o macro, para compreender que a sociedade toda é afetada por essa realidade: o comércio, os setores de transportes e serviços, a economia. A população toda sentirá na mesa o impacto direto desse episódio, pagando mais caro pelos alimentos em um momento onde se busca a recuperação nacional econômica gradativa, como resultado de uma pandemia que ainda desacelera setores importantes do país.

É pela sensibilidade ao momento que vivemos e pelo conhecimento técnico sobre seu impacto social e econômico que pedimos flexibilização, urgência e efetividade nas ações governamentais voltadas aos produtores prejudicados pela crise hídrica no Paraná. Não compreendemos que a situação seja de criação de novas políticas, mas do cumprimento integral das propostas já anunciadas aos brasileiros por nossos governantes.

Somos um Conselho profissional que defende interesses sociais e, por isso, seguimos contribuindo para a construção de um futuro melhor, acompanhando e fiscalizando as medidas públicas que impactam diretamente a sociedade na qual estamos inseridos e pela qual trabalhamos. Precisamos entender adequadamente o momento que vivemos, fazer uma leitura crítica do nosso contexto, para enfrentar os riscos e as consequências da atual situação, para ajustar as políticas públicas de forma a enfrentar melhor episódios como a crise hídrica e a estiagem paranaense.  A partir disso, espera-se ações pertinentes.

Em toda crise ocorre um importante momento de discussão, uma janela de oportunidade: nossa agricultura paranaense, com seu belo histórico de desenvolvimento coletivo merece um novo olhar, para um futuro melhor. Vamos juntos aproveitar essa oportunidade!

Engenheiro Civil Ricardo Rocha – Presidente do Crea-PR.

*O artigo contou com a participação do Eng. Agr. Daniel Galafassi.


Comentários

  1. CHRISTIAN REICHMANN SASSI says:

    Prezado presidente do CREA-PR e Eng° Agr° Galafassi
    Nossos Cumprimentos

    Sou Engenheiro Agrônomo e pequeno produtor. Trabalho na Adapar. Conheço a realidade da agricultura do PR. Certamente o setor público deve apoiar agricultores afetados pelo clima, porém, apenas os pequenos. Os demais conseguiram se capitalizar suficientemente nos últimos 10 anos ou até mais. Tiveram anos muito favoráveis, inclusive adquirindo terras. Não devemos esquecer que o próprio agronegócio é o agente principal na ocupação de áreas naturais que deviam servir para amortecer os efeitos de ocasionais extremos climáticos e hoje já não cumprem essa função. Veja-se as imagens de satélite que são disponíveis a qualquer cidadão. Destaco principalmente o seguinte aspecto: Juros subsidiados pela sociedade. Este já é um grande benefício. mais a mais, quando os agricultores tem lucro em suas atividades não o distribuem para a sociedade, deste modo também é justo que arquem com os prejuízos de sua atividade quando estes ocorrem. vendam um pedaço de terra (médios e grandes) ou hipotequem para garantia de novos empréstimos junto aos bancos privados. Se a agricultura não fosse um bom negócio na média dos anos não existiriam interessados em entrar na atividade. Quanto a falta de mão de obra para tocar os programas públicos, concordamos em parte. Há muitos profissionais sub utilizados dentro serviço público. Já na área privada há muito sub emprego e a crise deveria servir para o agricultor valorizar e contratar esses profissionais que detem um conhecimento valioso para ser aplicado nas lavouras e reduzir prejuízos decorrentes dos efeitos climáticos. Dentro desse aspecto, as previsões do efeito la ninha, já eram conhecidos antes do plantio da safra e mesmo assim os agricultores não o levaram em conta. Falta assistência técnica como o próprio CREA-PR reconhece e isto já foi apontado em estudos anteriores do IAPAR-IPARDES. Se o agricultor não busca esse serviço então a que arcar com suas decisões e que resultam em maiores perdas por falta de conhecimento técnico. Em resumo, o governo deve ajudar os pequenos agricultores, os demais devem utilizar o capital acumulado para amortizar as perdas e recorrer as suas cooperativas. Os trabalhadores do setor público funcional já deram sua contribuição, os trabalhadores das cidades igualmente, muitos ficaram sem seu ganha pão, porque mais uma vez a sociedade deveria socorrer aqueles que tiveram perdas nesta safra mas acumulam saldo altamente positivo ao longo das últimas 10 safras? A agricultura evoluiu como vemos nas propagandas do agronegócio, não estamos mais na época da agricultura jeca Tatu, a informação está aí, disponível como nunca. Não estamos lidando com coitadinhos, que o diga a FAEP e Ocepar – SICREDI. No livre mercado liberal a regra é simples, ninguém é obrigado a plantar ou criar. Como já ouvi várias vezes da boca dos próprios agricultores, eles não plantam por caridade social ou para produzir alimentos baratos mas sim para GANHAR DINHEIRO, TER LUCRO, então este é um momento de reflexão.

    Atenciosamente
    Engenheiro Agrônomo
    Christian Reichmann Sassi

    • Comunicação Crea-PR says:

      Olá, Christian. Tudo bem?
      Agradecemos seu comentário!

      • Agradeço ao Eng. Agr. Christian Reichmann, pela leitura atenta, sugestões e críticas ao nosso artigo “Agricultura do Paraná: crise e oportunidades para agir agora e repensar o futuro! “Considero sempre que o debate educado e a partir de bons argumentos, como o exposto nas considerações do Eng. Agr. Christian, engrandecem a discussão, mesmo nas partes que possam divergir de nossa opinião, são muito saudáveis e próprios de uma democracia, bem como contribuem para uma adequada formação de posicionamentos por nossa comunidade.
        Eng. Civ. Ricardo Rocha de Oliveira

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