Academia e atuação profissional: uma conexão que precisa ser estabelecida
Por Ricardo Rocha, presidente do Crea-PR24 de agosto de 2022, às 9h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
“Quando os ventos da mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.” Érico Veríssimo.
Nos tempos em que eu era um jovem acadêmico, na década de 80, na Universidade Estadual de Londrina, lembro que meu contato com a Engenharia se dava a partir da teoria, atividades práticas de laboratório ou campo e conceitos aplicados no dia a dia das profissões, através dos fundamentais estágios. Hoje, a realidade dos centros de ensino mudou muito: nós, professores, precisamos ir além do conteúdo dos denominados componentes curriculares, para formar os profissionais do presente e do futuro, de forma a estarem alinhados com as demandas da sociedade e cada vez mais preparados para sua atuação profissional, para um mercado exigente e em contínua transformação. As exigências atuais vão desde a inovação até o empreendedorismo, por exemplo.
Nos cursos das nossas áreas tecnológicas, nas Engenharias, Agronomia e Geociências, a formação precisa ser cada vez mais ampla. É necessário também desenvolver nos futuros profissionais a capacidade de utilizar as habilidades comportamentais, as chamadas “soft skills”, conciliar razão e emoção, valorizar a empatia e a iniciativa própria de cada um e incentivar que os alunos pensem diferente do senso comum, remexam o mercado de trabalho, sejam agentes de transformação da sociedade, levando mais que o básico, alcançando patamares importantes de diferenciação.
Nesse sentido, percebo um movimento importante: em várias das nossas instituições de ensino, em universidades, centros universitários e faculdades do Paraná, o ensino do espírito empreendedor, que remete a metodologia da criação de startups, e até mesmo do intraempreendedorismo, onde incentiva-se o aluno para que ele traga ideias e seja proativo nos negócios, mesmo enquanto funcionário, já é presente. E é a partir disso que percebemos no mercado de trabalho, uma corrente cada vez maior de recém-formados inquietos, que buscam ir além do lugar comum e estão cansados da mesmice. São profissionais que nos desafiam e trazem questionamentos e ideias antes impensáveis. São pessoas que, dentro das suas realidades, aproveitaram o ensino tradicional, mas agregaram inovações importantes para que consigam fazer a diferença.
O ensino, hoje, não é apenas para ensinar… Ele deve ser um processo ativo de interação entre professores e acadêmicos, um ambiente rico para motivar, inspirar e impulsionar os jovens, futuros profissionais, para serem cada vez mais agentes inovadores e transformadores. Pensando nisso, temos provocado essa pauta no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), com o objetivo de fomentar o ensino diferenciado e a agregação de ambientes inovadores de aprendizagem, com uso de tecnologias que permitam conviver com a importância fundamental do docente, mas possibilitam a introdução de atividades híbridas, presenciais e remotas. Temos trabalhado incansavelmente com professores, coordenadores de curso e acadêmicos, a fim de conciliar as demandas do ensino com as necessidades dos alunos, da sociedade e do mercado. Não podemos mais fechar os olhos para o ensino integrativo e baseado em problemas. Novas metodologias surgiram, o mundo mudou e a nossa realidade também está se transformando diariamente.
Finalizo com a reflexão da frase de abertura desse artigo: “Quando os ventos da mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.”
Os importantes conhecimentos e conteúdos historicamente construídos e que trouxeram muitos bons profissionais nas nossas áreas de atuação ainda são muito importantes. Mas, ao mesmo tempo. as mudanças são muito bem vindas, nos tiram da zona de conforto e nos impulsionam para buscarmos soluções, propormos eventos e integrarmos cada vez mais a academia com a realidade da atuação profissional. O ensino precisa, mais do que nunca, ser conectado, engajado e de resultado. Vamos aproveitar os bons ventos da mudança. Não há mais tempo para perdermos tempo.
Engenheiro Civil Ricardo Rocha
Presidente do Crea-PR
Seria bom 👍
João Marcos, esperamos que nossa atuação em parceria com as instituições de ensino contribuam efetivamente para que essa conexão continue evoluindo. Obrigado pelo feedback!
A academia pode sim contribuir com conselho. Temos ferramentas na academia que estão fazendo muito sucesso nas indústrias. Como por exemplo a padronização que a Vele aplicou há alguns anos por meio de aprendizado de máquinas. Técnicas já consolidadas na academia há aproximadamente.
Exatamente Marcio! As opções que a academia pode oferecer são diversas. Além destes exemplos que você citou, há outros que você acha interessante para ser destacado numa possível matéria da revista?