Marca do Crea-PR para impressão
Disponível em <https://www.crea-pr.org.br/ws/2022/12/artigo-deslizamento-na-br-376/>.
Acesso em 10/08/2024 às 16h15.

Deslizamento na BR-376 e a atuação técnica: qual a visão profissional sobre?

Por Abdel Hach, geólogo e integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)

6 de dezembro de 2022, às 12h12 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos

Conselheiro Abdelmajid Hach Hach

Na última semana, famílias paranaenses e de todo o país, acompanham consternadas e solidarizadas às constantes atualizações sobre a mais recente tragédia ocorrida na estrada do litoral do Estado. O deslizamento registrado na BR-376, em Guaratuba, é um desastre – que se soma a outros já ocorridos em rodovias de todo o Estado – e traz inquietude, reflexão, indagações e provocações às autoridades e à sociedade.

É, com certeza, imaturo buscar, nesse momento, determinar conclusões categóricas sobre o diagnóstico da tragédia ocorrida. Mas, sem nenhuma pretensão ansiosa ou precoce, é possível reconhecer a importância de uma atuação profissional composta por profissionais habilitados para o enfrentamento às situações adversas, como a citada aqui.

Os números contabilizados nos dão a magnitude do desastre:  o deslizamento no litoral deixou duas pessoas mortas, ao atingir pelo menos 15 veículos e seis caminhões que cruzaram a rodovia no momento. Outras 12 pessoas se salvaram do acidente, segundo o Corpo de Bombeiros, que concluiu as buscas por vítimas após, pelo menos, quatro dias de trabalho intenso no local. Até o momento, a pista da BR-376, na divisa entre os estados do Paraná e Santa Catarina, ainda não foi liberada. Após mais de 50 horas do início do processo de limpeza e desobstrução da via, as equipes retiraram 7 mil metros cúbicos de terra na BR-376.

Esse tipo de acontecimento me desperta, como cidadão, geólogo e integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), a reflexão frente a importância da atuação de profissionais habilitados com experiência e expertise para diversas situações do nosso Estado. Mais uma vez, ressalta-se que o objetivo de tal reflexão não é identificar causas ou culpados pelo recente episódio, mas dar luz ao compromisso social de segurança, responsabilidade e expertise técnica presente na atuação de profissionais habilitados dentro das profissões relacionadas às Engenharias, Agronomias e Geociências.

Sabe-se que, neste episódio, por exemplo, a atuação de geólogos e engenheiros é tão fundamental quanto estratégica. Eles são os profissionais detentores do conhecimento especializado para compreender as singularidades desse fenômeno natural e identificar, através da expertise profissional, os caminhos e medidas cabíveis para assegurar um tráfego sem riscos aos motoristas que percorrem as rodovias.

Até o momento do fechamento do presente artigo, a Arteris Litoral Sul, concessionária responsável por administrar o trecho, não informou ou respondeu nosso questionamento se havia, em sua equipe técnica, a presença de um geólogo, por exemplo. Nestas situações, é primordial poder contar com um profissional que possa monitorar o fenômeno da dinâmica dos riscos geológicos, com formação em geologia e aperfeiçoamento em geotecnia, pois cabe a esse profissional assessorar no monitoramento e na definição dos limites do risco no que tange a setorização de risco geológico; avaliação técnica pós desastre; elaboração de cartas de perigo; elaboração de mapas de riscos geológicos; elaboração de cartas geotécnicas; entre outros procedimentos. É necessário ouvir um profissional da área de geologia/geotecnia para avaliar o risco e validar a liberação da rodovia pós-desastre, com ART (anotação de responsabilidade técnica) na qual se atesta esta responsabilidade.

Entende-se que o fenômeno que aconteceu em 28 de novembro, foi causado por fatores naturais, condicionados pelas fortes chuvas e pelas características relativas ao solo e ao relevo, e por fatores antrópicos, entre os quais estão o desmatamento de encostas. E é justamente neste sentido em que se torna cada vez mais importante o envolvimento de profissionais qualificados com atribuição e formação acadêmica, somadas a experiência para monitorar o desenvolvimento do novo equilíbrio que a natureza pretende alcançar; qual seria o limite da alteração do equilíbrio alcançado pela ação do homem e quais serão as etapas de contingência/plano de emergência.

Por isso, o episódio desastroso ocorrido no Paraná nos clama uma manifestação responsável e necessária sobre a importância de equipes com profissionais habilitados e qualificados tecnicamente, em todo e qualquer ramo, sobretudo naqueles que estão presente em setores bases da sociedade e pilares do desenvolvimento, como a infraestrutura.

Como parte de um Conselho profissional que zela e luta por interesses sociais, atuando na construção de um futuro pleno, nos apresentamos sempre atentos e vigilantes às situações sociais, principalmente as de natureza das Engenharias, Agronomia e Geociências, a partir de uma leitura crítica e fiscalizatória.  Toda crise ou desastre permite um importante momento de discussão e reflexão. Como autarquia e como profissional da área, compreendo que faz-se necessário a construção de um novo olhar, principalmente sobre as medidas públicas de apuração do acidente, inclusive de afirmações divulgadas sobre risco zero, que podem gerar insegurança e risco, atacando assim, a credibilidade da Engenharia, especialmente da Geotecnia. Agora, é preciso entender adequadamente o momento que vivemos para enfrentar os riscos e as consequências da atual situação, ajustando decisões políticas, públicas e de conduta profissional, se necessário, para que a seguridade dos paranaenses se mantenha constante.


Comentários

  1. Marcos V Grein says:

    Enquanto continuarmos construindo estradas encaixadas por cortes nas encostas em regiões serranas tropicais, o risco de escorregamentos sempre existirão.

  2. Miguel zaganski Carmo da luz says:

    Bom,na minha opinião faltou a atuação do CREA,não precisava levar chacoalao do prefeito pra agir
    CREA :fazer a parceria com as concessionárias e mapear os pontos de risco e obrigar fazer as obras,
    Depois da catástrofes não adianta agir

    • Comunicação Crea-PR says:

      Olá, Miguel, entendemos sua indignação quanto ao desastre e a falta de ação dos órgãos competentes. Mas neste caso, ao Crea compete verificar se há profissionais habilitados e regularizados na realização da obra/serviço, e ainda, se há alguma situação de imperícia, imprudência ou negligência. Nesse sentido, a ação fiscalizatória cabível ao Crea já foi realizada e as verificações estão sendo feitas.

    • Comunicação Crea-PR says:

      Olá, Miguel, entendemos sua indignação quanto ao desastre e a falta de ação dos órgãos competentes. Mas neste caso, ao Crea compete verificar se há profissionais habilitados e regularizados na realização da obra/serviço, e ainda, se há alguma situação de imperícia, imprudência ou negligência. Nesse sentido, a ação fiscalizatória cabível ao Crea já foi realizada e as verificações estão sendo feitas.

  3. Paulo Barreto says:

    Tá, mas jogou a responsabilidade em cima dos órgãos públicos e da empresa .
    O Crea órgão fiscalizador tem alguma norma ? Propõe alguma norma . ? Este é o papel do Crea .

    • Comunicação Crea-PR says:

      Paulo, não ficou clara a que tipo de norma está se referindo, mas caso se refira às normas de atuação do Crea, as questões relacionas a imperícia, imprudência e negligência no exercício da profissão são analisadas e julgadas seguindo a Resolução 1.090/2017. O papel do Conselho de Fiscalização, neste caso, é averiguar eventuais falhas dos responsáveis e tomar as ações aplicáveis caso essas falhas sejam comprovadas. Essa verificação acontece por meio de um processo de fiscalização, que neste caso também já está em andamento.

Deixe um comentário

Comentários com palavras de baixo calão ou que difamem a imagem do Conselho não serão aceitos.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *